Cateterismo segue como principal método para prevenir mortes por infarto
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O infarto agudo do miocárdio permanece entre as principais causas de morte no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, o país registra entre 300 mil e 400 mil casos por ano, com taxas de mortalidade que podem chegar a 30% quando o atendimento é realizado de forma tardia. Nesse contexto, o cateterismo cardíaco – exame e tratamento minimamente invasivo – continua sendo uma das principais ferramentas para reduzir complicações e salvar vidas.
O procedimento consiste na introdução de um cateter, um tubo fino e flexível, por uma artéria do punho ou da virilha até o coração. Com o auxílio de contraste e imagens em tempo real, o médico avalia o estado das artérias coronárias, identificando placas de gordura, coágulos ou estreitamentos que impedem a passagem adequada do sangue. Segundo o cardiologista intervencionista Sérgio Câmara, “é a forma mais direta e segura de identificar e tratar a obstrução que causa o infarto, restabelecendo o fluxo de sangue no coração e evitando a morte súbita”.
Angioplastia
Quando há obstrução significativa, o cateterismo pode evoluir para uma angioplastia, procedimento em que um balão é inflado dentro da artéria para desobstruí-la, seguido da colocação de um stent, uma malha metálica que mantém o vaso aberto.
“O objetivo é devolver o fluxo sanguíneo ao músculo cardíaco antes que o tecido entre em necrose. Cada minuto conta. Quanto mais cedo o vaso for desobstruído, maior a chance de preservação da função cardíaca”, explica Câmara, que atua como médico hemodinamicista na Rede D’Or e no Hospital da Bahia/DASA, em Salvador e região metropolitana.
Quando é indicado
O cateterismo é indicado principalmente em casos de infarto com elevação do segmento ST, identificado pelo eletrocardiograma. Nesses casos, o tratamento deve ocorrer o mais rápido possível, de preferência nas duas primeiras horas após o início dos sintomas.
Em situações de infarto sem elevação de ST ou angina instável, o procedimento também pode ser realizado precocemente, sobretudo em pacientes de alto risco ou com dor persistente. “A decisão é baseada na gravidade e no tempo de evolução. O cateterismo pode tanto diagnosticar quanto tratar, e essa versatilidade é o que o torna essencial”, destaca o cardiologista.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), são realizadas mais de 120 mil angioplastias por ano no Brasil. Estudos da entidade indicam redução significativa da mortalidade hospitalar quando o cateterismo é feito nas primeiras horas do infarto.
Mitos e verdades
Apesar de ser um procedimento seguro, o cateterismo ainda é cercado por mitos. Um dos mais comuns é o de que o exame é altamente arriscado. Câmara explica que os avanços tecnológicos tornaram as complicações graves muito raras. “Hoje o procedimento é realizado com anestesia local, em centros preparados e com alta taxa de sucesso. O risco de não fazer o cateterismo, em casos indicados, é muito maior que o de realizá-lo”, observa.
Outro equívoco frequente é acreditar que quem passa pelo procedimento não voltará a ter infarto. “A intervenção trata as lesões do momento, mas não impede o surgimento de novas placas. Por isso, é fundamental manter o acompanhamento clínico, controlar o colesterol, o diabetes, a pressão e mudar hábitos de vida”, alerta o médico.
Desafios no atendimento
Na Bahia, a maior parte dos centros de hemodinâmica está concentrada em Salvador e na região metropolitana, o que dificulta o acesso de pacientes do interior ao tratamento emergencial. “Muitas pessoas chegam tarde demais por causa das longas distâncias ou da falta de transporte adequado. A interiorização dos serviços de hemodinâmica é um desafio urgente”, afirma Câmara.
Para o especialista, a educação da população sobre os sintomas do infarto é igualmente essencial. “Dor ou aperto no peito, que pode irradiar para o braço esquerdo, costas ou mandíbula, acompanhada de falta de ar, suor frio e enjoo, exige atendimento imediato. Quanto antes o paciente chegar, maiores as chances de sobrevivência e recuperação”, orienta.
Câmara reforça que o cateterismo representa mais do que uma técnica médica — é uma corrida contra o tempo. “Em casos de infarto, o tempo é músculo. Cada minuto perdido pode custar parte do coração e, muitas vezes, a própria vida”, conclui.